domingo, 14 de dezembro de 2008

Quantidade X Qualidade

Hoje estive com minha irmã e seu namorado e ela me deu uma grata surpresa: conseguiu baixar uma estorinha que ouvíamos quando éramos bem pequenos, coisa de quase 35 anos atrás. Chama-se "O macaco e a velha". Quando ela esteve aqui em casa, achou o nosso disquinho, mas esse já estava até quebrado na ponta de tantos anos e tantas mudanças de residência que passei. Então, entrou em uma dessas ferramentas P2P (peer-to-peer) que baixam músicas e que as gravadoras teimam em atacar, seja por meio de processos, seja por meio de campanhas pesadas levadas ao ar por artistas e programas de alta audiência. Enfim, acho que não houve pirataria nesse caso, afinal são muitos e muitos anos e a música provavelmente não seja nem mais comercializada.

Estou ouvindo a música enquanto escrevo e pensando como a tecnologia, e principalmente o advento da internet permitiu que coisas de um passado bem remoto, que antes estavam restritas a um público muito pequeno que tinha acesso a essas raridades por conta dos pais ou dos avós terem guardado, agora estão ao alcance de praticamente qualquer um que tenha interesse. Que coisa boa!

Mas será tão bom assim? A pergunta surgiu porque não vejo toda a criatividade que seria de se esperar pelo acesso irrestrito a tanta informação do presente, do passado e mesmo sobre um possível futuro. Claro, temos vários movimentos bastante criativos, mas comparando com as dificuldades do passado, ainda acho pouco. Talvez a dificuldade realmente adube as novas idéias. Alguns defendem essa idéia, de que as dificuldades desafiam os seres vivos à melhoria e, diante de tanta facilidade, talvez seja muito mais viável curtir o hoje e reaproveitar as idéias.

Talvez estejamos vendo um movimento como esse. Primeiro, a facilidade de colher idéias. Antes, precisávamos ler muito, vivenciar muitas experiências, para, só então, deixar nossa marca no mundo, dar nossas opiniões mais profundas. Hoje, parece existir um excesso de opiniões. Vê-se muita gente que não tem nada de novo a dizer, pessoas que nunca se empenharam em aprender mais do que as modas pudessem ensinar, mostrando em alto e bom som (textos, imagens) tudo que "pensam". Será que pensam ou só reaproveitam frases, pensamentos, idéias daqueles que fazem a cabeça de sua tribo?

Pelo que vejo, o reaproveitamento superficial de idéias está cada vez mais comum. E, com isso, a evolução do pensamento, que poderia estar em um ritmo tão veloz quanto a evolução tecnológica, parece depender, como sempre dependeu, do trabalho árduo e abnegado de pessoas que desejam e sonham mudar a sua realidade, não com a letra de uma música, com as frases de uma celebridade cuja única vantagem sobre a massa é ser rica, mas com novos conceitos, novas interpretações do mundo dadas pelos novos conhecimentos que acumulamos dia-a-dia.

Bem, o acesso à informação não pode ser visto como prejudicial. Cada um faz o que bem entender com essas informações. Mas seriam interessante algumas iniciativas que procurassem classificar as informações na internet e catalogá-las por qualidade. Parece pouco democrático, até porque o que é interessante para um pode não ser para outro, mas utilizando critérios mais rígidos do que somente existir, poderíamos ter uma indicação do que vale a pena e do que é somente replicação das besteiras cada vez mais comuns, que acabam virando "verdade" pelo excesso de exposição. Fica a idéia a realizadores que querem mais qualidade e criatividade.

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